quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

UFA! ACABOU O 2008! ADEUS!

Em 2008 tornei-me de choro fácil, não tão fácil como meu tio que, segundo minha tia, chora até em inauguração de supermercado, mas hoje me permito derramar lágrimas até com leituras, filmes e músicas.

Meu pluviômetro registrou alta também com um rompimento, coisas do coração. Não tanto pelo fim em si, afinal “não há mal que dure para sempre e nem felicidade que nunca se acabe”, mas pela sensação, não sei se equivocada, de não restar nada.

Mas o 2008 também teve seus sabores. Aprendi a gostar de sopa, encarei abóbora (com moderação) e meu paladar despertou para o caju. Também comi escargot pela primeira vez, e adorei (que perigo!). Cozinhei bastante, e arrisquei novas receitas, por pura intuição. Todas provadas e aprovadas! Recebi mais amigos em casa e os visitei sem muita combinação. É fato, em 2008 não fiz dieta alguma. Tomei mais vinho que cerveja, e mais cerveja que cachaça.

Meu blog nasceu, assim como o Guilherme, o Eduardo, a Giulia, o Théo, o Rafael, a Joana, o Miguel e o Diogo. Usei franja durante meses e não fazia idéia que o sexo oposto gostasse tanto. Ainda assim, preferi voltar ao visual anterior, mais despojado e natural.

Em 2008, passei a me incomodar com gente que não para de falar. E também por isso, comecei a exercitar a minha quietude. Acreditem! Já obtive algum êxito.

Trabalhei menos, e ganhei menos, mas tive uma vida mais calma. Passei a questionar o consumo exacerbado e a valorizar todo o tempo livre e a qualidade de vida. Terminei meu mestrado. Pesquisei a Vila Madalena e enveredei a estudar bairros, gente, boemia, memória, sociabilidade e pertencimento. Foi uma experiência e tanto! Quase emendei o doutorado, mas resolvi adiar um pouquinho. Encarei a possibilidade de morar no Rio, e prestei um concurso por lá, não sei se por ter apenas uma vaga, e não ter estudado o suficiente sorte ou azar, não passei.

Li mais, escrevi mais, assisti mais filmes. Dormi e acordei mais tarde. Fiquei mais em casa e passei, mais do que nunca, a apreciar o silêncio. Curti a minha companhia. Troquei o número do meu telefone de casa e decidi não passá-lo a quase ninguém. Também passei a ignorar as ligações não identificadas no celular, e descobri que minha sobrinha é o melhor remédio para os dias tristes.

Em 2008, estreitei laços com amigos bem mais velhos que eu, e percebi que a cada encontro uma enormidade de coisas despencava sobre a minha cabeça: livros pra ler, filmes pra ver, lugares pra conhecer. Passei a anotar tudo! Haja caderninho!

Reencontrei um grande amor do passado e vivemos um momento pra lá de especial. Consegui declarar todos os sentimentos de outrora ao único homem que me emudeceu.
Foi um alívio confirmar que é bonito porque é passado e que, portanto, deve permanecer como está, fazendo parte apenas das melhores das nossas lembranças. Era uma pendência, e agora está resolvida. Com toda a certeza, foi um grande encontro, na hora certa, para ambos. Valeu muito!

Em 2008 fechei-me pra balanço. Me recolhi. Não suporto a idéia de tapar buraco, curar um amor com outro. Reconheci que era preciso viver o luto, sarar, ficar bem comigo, e só então permitir a aproximação de outro. Assim, dispensei companhia e beijo na boca. Brinquei pouco e não me apaixonei.

Descobri que MSN é ótimo para conversar com os amigos que moram longe, trabalhar, marcar algo com alguém ou simplesmente dar um “oi”, desde que essa não seja a única ferramenta de uma relação. Se for, vale à pena repensá-la! Por MSN me desentendi com uma pessoa querida mas, por outro lado, também rolaram "otras cositas mas", novos encontros, bem legais.

Ganhei dinheiro, pela primeira vez, como “tiradora de fotos” e senti o maior legado deixado pelo meu pai - a fotografia - correndo em minhas veias. Foi prazeroso e gratificante. Fiquei querendo mais!

2008 não foi um ano fácil. E pra ser sincera, não sei se gosto dos anos pares. Mas ok, pelo menos o Palmeiras foi campeão paulista!

E dessa vez, diferente dos outros reveillons, optei por algo mais tranqüilo, em minha casa, com poucos amigos - os já mencionados bem mais velhos que eu. Escolhi a boa comida, boa bebida, companhia à mesa e conversa da mais alta qualidade.

Que venha o 2009! E então viajarei um pouco, pularei ondas, me energizarei. A Bahia estará lá, com sol e mar, me esperando, sem o tumulto da virada do ano.

Para o novo ano, acima de tudo, quero paz! Quero leveza, quero prazer, e furor pela vida. Quero reciprocidade! Já começo a sentir o meu coração mais aberto, reagindo, mais disponível para o amor e, que seja ele qual for, que venha para ficar!

Que o 2009 seja um ano disparatadamente delicioso. Para mim e para vocês!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

TRAIÇÃO

Por José Luís Peixoto

[...] Sou uma mulher, não deixei de ser uma mulher, mas agora tenho outros interesses. Não sei ainda quais são. Talvez a mágoa. Talvez a mágoa seja agora um dos meus interesses. Presto bastante atenção à mágoa, é certo. Neste verão que terminou, parecia-me que a mágoa tinha um cheiro entre os primeiros instantes de cada dia, uma nesga de luz matinal na janela do quarto [...] e eu a decidir se estava acordada, se era outra manhã, se queria outra manhã, acordar, e a parecer-me que a mágoa tinha um cheiro.

Para ler o conto na íntegra, basta clicar aqui!


Fonte:
Revista BRAVO! Dezembro/2008

FRAGMENTOS DO ANO DE 2008


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

SANTA DE ARAQUE - PRESENTAÇO DE NATAL III

Dando sequência aos deliciosos presentes de Natal, aqui está um texto de autoria da minha amada prima-irmã (meu pai é irmão da mãe dela, e minha mãe irmã do pai dela) Aline Dantas Pinheiro.

Oh bonita, espero que esse texto seja o primeiro de muitos! Obrigada! Xêro (com "x" mesmo!).


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SANTA DE ARAQUE

Achou que subir a escadaria do Bonfim era demais, pois sobreviver àquela agonia já era um puta sacrifício... ele é quem tinha que subir aquilo umas mil vezes, pensava ela.

Acendeu umas velas pra São Jorge... até o dia em que descobriu que o cara não era um santo tão confiável assim. E agora? Stº Antônio! Casamento? Nãããão! Melhor seria fazer pacto com o demo. Stª Rita? Também não. Não podia acreditar que era uma causa tão impossível assim, e resolveu deixar a santa quieta.

O jeito era apelar pros santos alheios. Tomou passe no centro e dançou no terreiro pra Iansã, desafiou as teorias de Sidarta, e se queimou nas fogueiras da Wicca. Se perdeu um dia na Sinagoga, e foi parar na numeróloga. Pensou em Jah, se rendeu aos rituais primitivos do Xamanismo, e amaldiçoou as cartas do tarô. Quis ir até Meca. Quase tomou o Daime. Pensou até em falar com o Obama. Conversou com a Lua, fez as mandingas do povo e tomou banho de sal grosso.

As fitinhas e os trevos pesavam mais que as moedas dentro da carteira, enquanto a alma se esfarelava em aflição e descrença. Um dia o telefone tocou, e em poucos minutos ela estava lá, no Umbanda. Novos santos, novas energias. Os sons dos tambores lhe arrepiaram até a espinha, e a mãe de santo a recebeu de braços abertos. Decidiu ir falar com o preto véi:

“Ô mizifi! É o seguinte... (num blá blá blá sem fim pediu o help pro caboclo). Ele a olhou com os olhos meio esbugalhados e disse: “Fia, num é certo dizê isso aqui pra vós sunsê, mas isso aí só o grandão lá de cima, viu!”. Só deu tempo de pensar: “PQP!”. E a conversa foi encerrada com uma espécie de passe. Umas assopradas daquele fumo estranho, umas palavras que mais pareciam uma mistura de tupi com russo, e um olhar magnificamente distante.

Foi embora. No carro, à caminho de casa, ainda se sentindo um pedaço de carne defumada, pensou: “É nêga. Nem o preto véi deu conta de desfazer esse nó”. E então jogou as fitinhas fora, apagou as velas, fechou as bíblias, e percebeu que a maior fé só poderia ser nela mesma, e contado com o grandão lá de cima e seu arsenal de novas rezas, se auto-declarou sua própria santa de araque.

PRESENTAÇO DE NATAL II


Desenho feito pela minha afilhada Ana Clara, aos 7 anos de idade,

já devidamente grudado na porta do meu quarto.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

PRESENTAÇO DE NATAL I

Em meio a uma gostosa noite regada a bom papo, lembranças, devaneios, cerveja geladaça e cachaça, fiz um pedido. Não, não foi ao papai-noel, foi ao querido Daniel Vainsencher que o atendeu prontamente e me presenteou com o belo texto (que segue) sobre a paternidade. Pois bem, ele agora também tem um BLOG e poderá nos alimentar com seus pensamentos, idéias e sentimentos.

Obrigada, Dani! Eu sabia que seu brilho nos olhos quando falava da Ana Luísa só poderia render coisa boa.

Um FELIZ NATAL para todos!

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Por Daniel Vainsencher

Certa vez na praia da Enseada (Ubatuba) estava com a Ana Luísa, minha filha, dormindo confortavelmente no meu colo enquanto conversava com outro freqüentador do quiosque. Ele reparou na Ana e citou um amigo: "Quando a minha filha dorme no meu peito me sinto Deus".

Achei bonito. Entendi a imagem de proteção, segurança e referência que o pai representa para a pequena criatura. Hoje, alguns meses depois - ela está com 1 ano e 2 meses -, reflito sobre o que ouvi.

Aprendi muito desde então. Vi os dentes nascerem. Vi novas expressões brotarem a cada experiência. Sei a história de cada manha, de cada palavra: dois, (S)antos, gol, noel, papadel (Papardelle - juro), Bil (Gil), dodói, senta, sentei, sentô, auau, tato (gato), cabô, dedão, fô (flor).

Ensinei e aprendi novas caretas. Observei muito. Muito mesmo. Dormindo, brincando, mamando, chorando, brigando, dançando. Quanta coisa. O que a alegra, irrita ou chateia. Descobri muitas coisas. Outras não faço idéia. Porque não gosta de roupa? "tila, tila", diz puxando a blusa num frio dia paulistano. Porque dá cabeçadas sorrindo. Isto mesmo. Basta que eu diga: "cadê o cabeção, filha" e o pequeno aríete entra em ação. Os alvos preferenciais são a janela e a minha própria cabeça. Gosta de samba, mas está numa fase mais blues. Gosta de música. Pede: "múta, múta"

Me envolvi com todas estas descobertas. Fiquei mais terno e mais emotivo. Reflito mais antes de fazer. Aprendi a observar como nunca. Principalmente: reaprendi a me encantar. Me sinto próximo, muito próximo deste pequeno ser. Tão próximo como apenas um pai poderia estar, não um Deus.

beijos filhota.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

SEPARAÇÕES

Amantes verdadeiros quando deixam de sê-lo
tem de ao menos tornarem-se amigos.
Senão o mundo fica cruel demais.


Do Filme Separações (2003) do Domingos de Oliveira.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

BORGES NO BALCÃO

Para o grande amigo do Distrito Federal que recentemente presenteou-me com Borges.

Sem dúvida, um novo mundo a explorar!

O grande amigo, em uma de nossas
intermináveis noites de conversa e devaneios,
regada a vinho tinto, no aconchegante Bar Balcão.


Descartes afirma que os macacos poderiam falar, se quisessem, mas que resolveram guardar silêncio para não serem obrigados a trabalhar. Os bosquímanos da África do Sul acreditam que houve um tempo em que todos os animais podiam falar. Hochigan não gostava de animais, um dia desaparaceu, e levou consigo esse dom.

FONTE: BORGES, Jorge Luis. O Livro dos seres imaginários.
FOTO: Vanessa Dantas

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

TUDO IGUAL, OUTRA VEZ

Para ela, final de ano é tudo igual. Não que ela desgoste, até porque significa que as férias estão chegando e, portanto, mais um motivo para brindar! Mas ela acha que os enfeites natalinos poderiam ser dosados, e o velho e bom “quando menos é mais” poderia ser aplicado também ao excesso de luz, já que o mundo parece esquecer que energia (inclusive elétrica) é algo que não deve ser desperdiçado.

Se somar ainda ao consumo exacerbado, a caridade temporal, o comércio enlouquecido, o trânsito carregado, e o ritmo acelerado, costuma soltar: parece até que o mundo vai acabar!”.

É bem verdade que ela jamais teve espírito natalino, talvez pelo fato de nunca ter acreditado em Papai Noel. E como se não bastasse duvidar do bom velhinho, ainda criança, avisou sua amiguinha que os presentes embaixo da cama eram colocados pelo pai da menina e que a cartinha “escrita” pela pequena jamais seguiu pra lugar algum. A amiguinha chorou, mas parece que a perdoou.

Jamais colocou uma guirlanda na porta de casa, tampouco teve a idéia de montar uma árvore de Natal, mas se um dia tiver um filho, não descarta repensar o assunto.

Também tem questionado a quantidade de festas de confraternização, como se o restante do ano não fosse digno de celebração. Eu celebro, tu celebras, ela também celebra, embora ultimamente tenha optado por encontrar de pouquinho – uma, duas, três pessoas no máximo, ou o quanto cabe numa mesa de bar. E se for na casa dela, limita a quantidade a sua mesa de jantar.

Ela considera que a parte boa é empurrar tudo o que não foi feito pro ano seguinte (sem culpa!) e ao começá-lo, montar uma lista de quereres, mesmo sabendo que muitos deles não devem (e talvez nem precisem) ser realizados.

Acha curiosa a reação das pessoas quando querem saber onde ela passará o reveillon, pois ao responder que “ainda” não sabe, percebe olhares de estranhamento, como se fosse obrigada a passar longe de casa, ou ainda, só porque faltam menos de dez dias para o Natal, já deveria saber. E os que não perguntam, é porque concluem antemão que só há duas opções cabíveis para ela: Rio ou Bahia. E então ela questiona se de fato tornou-se tão previsível assim, mesmo achando que isso não seja de todo um mal.

Mas assim como a maioria das pessoas, não consegue passar imune aos mais variados clichês tão comuns a época e, confessa que, sente uma vontade lascada de rever algumas pessoas queridas antes do ano acabar.

De resto, ela prometeu que não fará promessa alguma para 2009, mas que voltará a viver na base da reciprocidade, deixando de se importar com quem não se importa com ela, além de evitar a todo custo passar na frente da TV na hora do Especial do Rei, pois não quer repetir a cena do ano passado, quando chorou a cântaros ao ouvi-lo cantar “Outra Vez”.

PAPAI NOEL PÓS MODERNO



Domingo, 14 de dezembro de 2008.
Av. Sumaré, Perdizes, São Paulo.

Fotos: Vanessa Dantas

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A FRONTEIRA DA ALVORADA


"Não quero mais que diga que me ama."

Frase do filme A Fonteira da Alvorada (LA FRONTIÈRE DE L’AUBE),
de Philippe Garrel, França, 2008.

domingo, 14 de dezembro de 2008

IMPREVISTO

Por Valéria Tarelho


na certa
é amor
ou
quase isso

(disse a carta
do tarô)

búzios
oráculos
horóscopo
até no céu
estava escrito:
é amor
ou
quase que

acreditou...

e se ferrou
bonito

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

QUANDO A COMPANHIA É BOA, DÁ NISSO!


Ontem, ops, hoje, madrugada, Mercearia São Pedro, Vila Madalena.
Que mania de fechar bar!
Foto: Vanessa Dantas

FRAGMENTOS DE UM DIA QUALQUER DO MÊS DE DEZEMBRO

Fotos: Vanessa Dantas (exceto, evidentemente, na que apareço)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

VICKY CRISTINA BARCELONA - II

Duas pessoas me pediram e então resolvi escrever sobre o filme VICKY CRISTINA BARCELONA, do Woody Allen, em cartaz desde o dia 14 de novembro de 2008. Ressalto, porém, que não basta gostar de cinema para sentir-se a vontade para escrever, de modo que expresso aqui apenas algumas das minhas impressões, sem qualquer pretensão maior. Então vamos lá...

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Mais uma vez, Woody Allen fez um grande filme. E o fato de carregar inúmeros clichês, inclusive turísticos, não o deprecia em nada. Desde o local escolhido, Barcelona, que pelo título poderia ser uma das personagens - quem conhece a cidade, sente saudade ao vê-la, e quem nunca foi fica com vontade de ir - às férias de duas amigas, onde uma delas, a prudente Vicky (Rebecca Hall) "acha" que sabe o que quer (vai à busca de sua pesquisa de mestrado sobre a cultura catalã, está de casamento marcado com seu noivo "perfeito", para uma vida "também perfeita") e a outra, a sensual Cristina (Scarlett Johansson), uma artista em crise, que sofre de insatisfação crônica, "só sabe o que não quer", e vai levando a vida aberta a tudo, menos “ao que ela já sabe que não quer”, evidentemente.

O filme é divertido, e não há como deixar de se identificar com alguns dos personagens ou situações dos percalços amorosos, ao menos em um ou outro momento do filme. E sabemos que para conquistar o espectador, a identificação é um prato cheio.

Javier Bardem (no papel de Juan Antonio) está tão espetacular que parece interpretar a si mesmo. Seu charme deixa a público feminino entorpecido. Atire a primeira calcinha, ops, pedra, qual mulher que não queria, ao menos uma vez na vida, receber um convite daquele! Não estou falando essencialmente do aceite, mas do convite! E quanto aos homens, acredito com segurança que se contorceram de inveja!

O noivo de Vicky, infelizmente, representa um modelo que está solto por aí, não somente nos folhetins e novelas - é o típico burguês, sem graça, fútil, que leva uma vida morna, que gasta saliva na hora do jantar falando do último modelo de TV, pensando no próximo carro, jogando golfe, e achando tudo isso maravilhoso. Eca! E Vicky, por nunca ter vivido algo mais excitante, acredita nesse tipo de vida, pois não possui qualquer referência que lhe confira discernimento. E somente depois de seduzida por Juan Antonio, é que começa a enxergar um palmo à frente do nariz.

Mesmo assim, esse tipo de relação (Vicky e o noivo), carregado de um conformismo tão peculiar, existe a cântaros por aí (por aqui não, jacaré!), impossibilitando qualquer tipo de transformação humana. Seria preguiça? Resignação? O fato é que o aceite a este tipo de vida só leva a sensação de que a escolha amorosa é fruto de um comodismo medroso, o que acaba levando um dos parceiros (aquele que percebe de alguma forma) à dúvida de como seria outro tipo de vida e relação, se existisse a coragem para dar um basta. Penso também que aquele que não possui tal percepção, vive feliz, e sua vida é considerada “morna” apenas para quem a observa de fora.

O filme traz a eterna dúvida do que é o amor, das diferentes formas de amar, além da confusão estabelecida entre sedução e paixão, amor e paixão e quem sabe até, amor-paixão. Coloca a paixão solar e desmedida vivida ou idealizada (tanto faz – triste de quem nunca a viveu!) como propósito, pois mesmo reconhecendo a presença do medo, o “querer viver intensamente” o lança mão, e se desfaz (ainda que temporariamente) dele.

O amor pode machucar, confundir, e gerar posse. Mas não há o descarte também do compartilhar (Sartre e Simone de Beauvoir?), que vem por meio de um entendimento maior em relação às necessidades do outro ou de si mesmo. Taí as diferentes formas de amar...

Penso que a mulher, acima de tudo, quer ser desejada e Woody Allen soube trabalhar muito bem isso. Juan Antonio, diferente dos “Don Juans” de plantão, consegue dar conta das três basicamente porque se mostra leal, transparente, e não tenta enganar ninguém. Mas sabemos que na vida real, isso parece fora de cogitação, e se existe algo parecido, é para poucos, bem poucos.

As cenas de Cristina com Maria Helena (Penélope Cruz arrasando em beleza e sensualidade) conseguem ser lindas e leves. E a forma como Cristina trata (quando conta para a Vicky e o marido), sem qualquer preocupação em relação a uma possível bissexualidade é mais do que perfeita - não há tensão, não há medo, não há dúvida. Porém, ela (até ela) parece também querer se preservar, e prefere recuar usando o já citado e batido clichê “ela sabe o que não quer”. O fato é que o triângulo amoroso ali estabelecido passa a sensação de uma união perfeita e harmônica, aliás, somente possível porque vivida a três (Maria Helena, inclusive reconhece isso para Cristina). Mas, assim como na vida real, parece que sempre haverá um (no filme, Cristina) que não dará conta de mantê-la.

E, ao final do filme, quanto à volta de viagem das duas amigas, embora sugira o mais perfeito retorno à normalidade, penso que não há como desconfiar da transformação, ao menos interna, de cada uma delas. E a meu ver, o amor, a paixão, o amor-paixão, ou qualquer outro tipo de relação, somente quando resulta em transformação, é que efetivamente vale à pena!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SEXTA-FEIRA É DIA!

:: BAR LÉO ::

O Templo Sagrado!


O sino,
os canapés de linguiça Blumenau,
luz!
Steinhäger geladaça,
sanduíche de provolone com salame,
e porção de parmesão.
É chegada a hora de partir?
O melhor chopp do mundo - o elixir,
e o relógio que não atrasa!


Para o Gaúcho e para o , garçons do Templo Sagrado, meus mais sinceros agradecimentos pelo atendimento impecável, cordial, dedicado, e especial de sempre. Vocês me fazem feliz, muito!


Fotos: Vanessa Dantas

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

PAVÃO AZUL

Primeira terça-feira de dezembro, Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, final de tarde de sol. Hora de botecar! O Pavão Azul já era a escolha mais do que certa, afinal, devia isso ao querido amigo de Distrito Federal.

Nós quatro – eu, minhas duas primaxxx cariocaxxx, e uma queridíssima amiga das primaxxx - saímos da Tijuca. Ou seria Maracanã? Quem sabe Vila Isabel? Acontece que o apartamento da primoca fica na Rua São Francisco Xavier cujo IPTU o identifica como Tijuca, a taxa do condomínio como Vila Isabel, e tanto a conta de luz quanto a de gás como Maracanã. Tudo isso evidentemente me remete ao primeiro texto “Vila Isabel, a gênese”, do livro “Meu Lar é o Botequim”, do Eduardo Goldenberg, assim como minha dissertação de mestrado onde eu proponho conversa parecida – sobre a falta de delimitação da Vila Madalena – que se confunde com Pinheiros, Alto de Pinheiros, Sumarezinho ou Vila Beatriz. (Ok! Prometo tratar disso num texto futuro, afinal, estou aqui para falar do Pavão Azul)
Antemão, avisei as moçoilas que o Pavão Azul era um típico pé sujo de Copacabana e que, portanto, não esperassem nada empetecado. Disse ainda que, mesmo sem conhecê-lo, carregava uma certeza: lá, no Pavão Azul, eu seria feliz! Assim, a amiga das primas, que estava ao volante, nem contestou: Se vai te fazer feliz, é pra lá que nós vamos!

Dito e feito. Fui feliz, muito! E vou explicar tudinho.

Chegamos, e nenhuma mesa vaga. Algumas pessoas em frente ao referido estabelecimento, em pé, aguardavam. Lembrei do texto “Uma explicação necessária” do Bruno Ribeiro que coloca “fila na porta” como um indicador negativo para a apreciação de um bar. Como já me pronunciei a esse respeito, no próprio texto dele, sequer cogitei desistir. Dirigi-me ao garçom e pedi uma cerveja Original, que chegou geladaça, enquanto aguardávamos a nossa mesa. 


O primeiro copo foi sorvido no melhor estilo Fernando Amaral – um só gole, de uma só vez - e quase junto com a segunda garrafa, apareceu uma figura, no melhor estilo carioca, bem humorado, sotaque chiado, sorriso maior que a torcida do Flamengo, e muito educadamente nos convidou para sentarmos à mesa dele (ele estava com mais dois amigos). Com lábia expressiva, nos informou que já tinha providenciado com o garçom Vagner algumas cadeiras para nós, e como ele e os dois amigos logo iriam embora, sugeriu que essa era uma boa forma de garantirmos mais rapidamente a nossa mesa. Mostrou-nos ainda uma vantagem – no Pavão Azul, as comandas são separadas, de modo que não haveria problema caso alguém se preocupasse com a hora de pagar a conta.

Mas a cara e o jeito dele, de frequentador assíduo daquele boteco, somado ao modo elegante na abordagem, foi altamente decisivo para o aceite imediato. Pelo menos para mim, não se tratava mais de um convite, e sim uma oportunidade, já que os temas “bairros”, “bares”, “botecos”, “boemia” e “gente”, há muito passaram de simples interesse à verdadeira paixão.

O moço era falante, tinha um jeito malandro sem ser abusado e tudo ficou muito divertido. Ele disse ter 60 anos, mas não aparentava mais que 48. Era exagerado, e saiu contando as histórias do bar. Eu que não sou boba nem nada (exceto quando o tema é “coisas do coração”), não perdi uma informação, e ouvi mais do que falei (acreditem!).

Papo de boteco, de qualidade, de não ver o tempo passar. Só sabia os nomes (não divulgados aqui, para manter a privacidade) e nada mais importava. Era como se fossemos amigos das antigas. Falamos de amores e desamores, (pasmem!) voltei até a acreditar na fidelidade masculina e reconhecemos que “andar de mãos dadas” pode ser umas das mais belas expressões de amor. Concordamos que quando o cheiro da pele não bate, não há como insistir, mas defendi minha tese que o mesmo não serve para o beijo (há um senso comum que o beijo na boca “diz tudo”, “é o termômetro” e blá blá blá), pois o beijo na boca pode e deve melhorar, e um beijo médio não significa necessariamente uma transa ruim. Chegamos até mesmo a cantarolar as músicas do Rei, até que um deles pediu pra sair, e segundo nosso amigo fanfarrão, o moço foi pra casa assistir a novela. O outro amigo continuou conosco - era bem bonito, mais quieto, aparentava menos de 40 anos, vez ou outra jogava algum charme, mas carregava uma aliança de casado, daquelas que pesam (mesmo!).

Em meio a tanta conversa boa, não esqueci, porém, de uma das dicas do Edu Rodrigues não deixe de provar o risoto de camarão e/ou a empada do referido crustáceo” em seu comentário sobre o meu texto “A PAULISTANA E SEUS DISPARATES CARIOCAS". Deixei o risoto para outro dia, mas a empada foi prontamente atendida pela gentilíssima Bete (uma das donas), que veio a nossa mesa e garantiu que assim que saísse a fornada, as primeiras empadas seriam nossas. E seguindo também a dica do nosso anfitrião, provamos pela primeira vez um petisco chamado Patanisca – uma espécie de bolinho de bacalhau, feito sem batata e muito mais gostoso. Bacalhau puro! De comer chorando, aos prantos...

O Pavão Azul tem 50 anos de existência e, segundo nosso anfitrião que gostava de contar "causos", seu antigo dono era um portuga que saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou, e desde então as irmãs Vera e Bete assumiram o comando e se revezam cuidando tão bem deste precioso e aconchegante botequim. Os banheiros são limpos (quem me conhece sabe que eu não fico em fila de banheiro, se o feminino estiver ocupado, é no masculino mesmo que eu vou – e antes que a homarada fique brava, saibam que sou muito rápida no escoamento etílico) e outro detalhe importante para os neuróticos de plantão: o boteco fica em frente à Delegacia de Polícia de Copa. Não que seja necessariamente um indicativo de segurança, afinal, estamos falando da Polícia do Rio.

Passava pouco das 21h e veio a notícia que a cerveja tinha acabado. Como pode? Quase enfartei! Mas isso não foi problema algum. Partimos para algumas doses de Germana (que eu adoro – nem fraca, nem forte, na medida), e finalizamos com alguns honestos chopps Brahma. Pouco depois fechamos a conta, mas o novo amigo ainda bancou uma série de saideiras, estendendo nossa agradável noite para além do planejado.
E como uma boa bacharel em Turismo, ou turismóloga, o endereço do Pavão Azul não poderia faltar:

Endereço: Rua Hilário de Gouveia, 71A-B - Copacabana -

Horário: Segunda à domingo, das 9h à 0h.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA

Eu pedi e ela acatou. Não queria conversar sobre aquele 03 de dezembro de 2007. Mas ela também fez um pedido que e não pude negar – manteríamos exatos 365 dias de silêncio sobre o referido assunto, e hoje eu deveria procurá-la para ouvir tudo o que ela tivesse pra dizer.

Liguei. Ela demorou a atender, por um instante cogitei que não teria coragem, mas no fundo, eu sabia que ela não recusaria aquela ligação.

Nem bem atendeu, e já foi dizendo que tinha tomado uma série de decisões para o dia de amanhã. Assim, procurei ouvi-la.

Disse que amanhã, finalmente, ela apagará os últimos 11 torpedos que ainda restam em seu celular, por mim enviados dizendo que a amava. Amanhã ela também vai jogar a minha escova de dente no lixo, já que foi o único objeto não incluído aos demais devolvidos naquela fatídica tarde. Também vai tirar nossas fotos do mural, juntar as 20 e tantas cartas de amor que escrevi pra ela, e queimar tudo de uma só vez.

Eu bem que tentei interceder a favor das cartas, mas foi em vão. Ela ainda quis me convencer que eu me apaixonei pelo que escrevi e não propriamente por ela. E ela, por sua vez, pelo que leu, ou seja, por algo que nunca existiu além do papel.

Resolveu que vai aproveitar e deletar uma pasta que criou com o meu nome no computador dela, onde arquivava nossos e-mails e textos, alguns até publicados, que de alguma forma falavam da nossa relação.

Amanhã, os CDs que eu dei pra ela serão doados assim como uma pulseira que ela preferia usar como prendedor de cabelo, lembrando do dia que a tirei do meu pulso numa de nossas primeiras despedidas e a entreguei na porta da casa dela.

Ela enfatizou que o bonito colar que eu dei de presente de aniversário também mudará de dona, assim como a orquídea que resolveu nunca mais florir. Ela só não tem certeza se fará o mesmo com o DVD do meu filme preferido. Não por tê-la presenteado junto com uma pequena carta dizendo que aquilo era mais um pouco de mim, tampouco por termos assistido grudados no sofá num final de tarde chuvoso, mas pelo fato de também ter se tornado um dos filmes preferidos dela. Mas quanto a isso, ela disse que até amanhã resolverá.

Comentou também que amanhã deverá deletar os meus números de telefone e não entrará mais no meu blog, precisa parar de acompanhar o que escrevo, já que na maior parte das vezes eu não publico os comentários que ela faz.

Ela disse que o vestido azul guardado desde a nossa última noite juntos (dias depois do tal 03 de dezembro) voltará a uso, pois é muito belo para mantê-lo guardado.

A partir de amanhã, ela resolveu que desviará de caminho para não ter que passar pelas ruas próximas ao meu prédio, pois reconheceu não suportar o fato de eu ter alugado um apartamento tão perto do dela.

Também não quer mais tomar vinho nas taças azuis, iguais as que ela me deu de presente, mas só amanhã decidirá se prefere doá-las ou quebrá-las.

Ela revelou que não passou um dia sequer desses 365 sem pensar em mim, quase sempre alternando entre saudade e rancor, mas que de uns tempos pra cá, apesar de pensar, não consegue sentir mais nada, ou ao menos não tem discernimento sobre o que sente. Assim, ela prefere dizer que “cismou” comigo, a aceitar que tudo isso possa ser “amor”. Falou que já quis até que fosse “posse” como certa vez eu idiotamente mencionei, mas que descartou, pois se fosse realmente, tudo seria mais simples e há tempos já estaria liberta.

Disse ainda que nem ciúme consegue sentir de mim, e eu é que sou um sujeito muito do possessivo “embora eu não admita”, pois sequer dei ouvidos quando ela sugeriu que tivéssemos uma relação mais aberta e sem hipocrisia.

Eu confesso que fiquei mudo praticamente durante toda a ligação, até por lembrar que a proposta não era exatamente estabelecer uma conversa, um diálogo, e que o combinado era eu ligar para ouvir o que ela tinha pra me dizer e pronto. Mas antes que ela finalizasse com a previsível frase “amanhã não restará mais nada”, eu não resisti e resolvi perguntar:

- Por que você fará tudo isso somente amanhã?

E ela respondeu:

- Porque se eu fizer tudo isso hoje, amanhã eu não terei a chance de mudar de ideia!