terça-feira, 30 de setembro de 2008

COISAS DE CRIANÇA




- Conta itóinha, conta?



Lívia, minha sobrinha com 1 ano e 9 meses pedindo para eu repetir pela quarta vez a história do Lobo*.



* É como ela chama a famosa história da Chapeuzinho Vermelho.

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Minha afilhada Ana Clara (na época com quatro anos de idade) foi à padaria com a avó. A moça do balcão dos pães querendo puxar conversa com a criança, lançou:

- Nossa! Que olhos lindos! De quem são esses olhos?

A pequena arregalou mais ainda e respondeu:

- Ora, são meus!!!

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A palavra castigo caiu em desuso. A regra agora é mandar pensar.

Fez algo errado? Vai pro quarto pensar!

Então me pego pensando no que minha sobrinha de um ano e nove meses pensa quando seus pais a colocam para pensar.

Seria nos Backyardigans invadindo o Castelo de Greyskow para salvar a Pucca?

Bem, não faço idéia, mas sei que dá resultado. A japinha tá tão educada que tem ido pensar até por conta própria.

Será que teremos uma filósofa na família?

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Quer provocar minha sobrinha? Basta chegar perto dos pais dela para um chamego. Ela fica uma fera! Morre de ciúmes!

Numa dessas (ela tinha um ano e meio), eu estava abraçada com meu irmão quando a pequena me olhou muito seriamente e disse:

- Sai daí!!!

O super pai prontamente a corrigiu, dizendo que ela não poderia falar assim com a tia. Então, convencida pela boa educação, ela me olhou novamente e disse:

- Dá licença?!

FOTO: Vanessa Dantas

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

ESCANCARADO

Ela ouvia ele no banho enquanto avistava da janela o aumento do fluxo de carros que se multiplicavam na famosa avenida naquela manhã. Era a cidade acordando num dia qualquer se não fosse a lua que ainda sorria no céu cinzento.

Os lençóis denunciavam um amor rápido e ébrio seguido de um sono pesado e acalentado por corpos que há muito se conheciam e não se encontravam. Ela que nem sempre conseguia dormir acompanhada, gostava de dormir com ele. Ele não roncava.

Mas o que ela mais gostava mesmo era do sorriso escancarado dele. E admirando aquele corpo ainda molhado ela o provocava:

- Pra que tantos dentes, José?
Agosto de 2008

TÁ EXPLICADO!

Foto: Vanessa Dantas

"São Paulo dá tanta angústia que carioca faz besteira."



Do Filme Separações (2003) do Domingos de Oliveira.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

BANANA AMASSADA COM AVEIA

Coisa boa é selinho roubado. É declaração em guardanapo de bar ou escrita de batom no espelho do banheiro. É carta de amor enviada pelo correio.

Coisa boa é checar o e-mail no meio de uma viagem e um turbilhão de poemas despencar da caixa postal. É receber torpedo falando da lua ou simplesmente dizendo que está com saudade.

Coisa boa é ganhar flores e presentes sem motivo, é manhã roubada para fazer amor, é almoço estendido num dia qualquer. Coisa boa é convite para dançar Cartola juntinho à tarde na varanda de casa, ou Tony Bennett no meio da sala, com os corpos nus, vinho verde, uvas e macadâmia.

Coisa boa é ler García Márquez, ou ganhar um livro só porque o conto é bom e merece ser compartilhado. É assistir o filme preferido no sofá de casa, em dia frio, debaixo do edredom.

Coisa boa é o cantarolar dele para fazê-la dormir. É ele falar que “adora mulher com olheira” só para arrancar um sorriso no rosto dela. Coisa boa é pegar estrada junto, ouvindo música, proseando, sonhando, contemplando e silenciando.

Coisa boa é pé com pé. É “xêro” no cangote. É massagem e cafuné.

Coisa boa é o encaixe perfeito dos corpos na hora de dormir. É ouvi-lo repetir que ela só gosta dele porque ele é quentinho. É o sono compartilhado. É quando o ronco dele vira sinfonia.

Coisa boa é cozinhar para ele bebericando um bom vinho em meio a temperos, cheiros, beijos e conversa de cozinha.

Coisa boa é o olhar safado dele que não consegue disfarçar o desejo ao vê-la depois do banho. É ele dançar engraçado nas festas só para provocar gargalhadas nela. É jantar a luz de velas. É passar horas num bom boteco bebendo o melhor chopp e devaneando sobre a vida.

Coisa boa é trepar num pardieiro qualquer enquanto uma tempestade domina o centro da cidade. É ouvi-lo repetir que ela é melhor que a encomenda, o melhor sexo, e o melhor dos recomeços. Coisa boa é quando ela não tem dúvida da veracidade disso.

Coisa boa é quando ele invade o banho só para esfregar as costas dela e fala pela milésima vez o quanto aquele corpo é anatomicamente perfeito para o sexo. Coisa boa é secar as costas dele depois do banho. É o encantamento dele pela cor dos olhos dela. É a boca ressecada depois de fazer amor.

Coisa boa é chorar de alegria. É ele pedindo pra ela não abandoná-lo. É não abandoná-lo e ver que valeu à pena. Coisa boa é ela poder pedir o mesmo e saber que ele também não vai deixá-la.

É ir ao cinema até para a estréia de Duro de Matar. É beijo de parede. E de café duplo, depois do almoço, sem adoçante. Coisa boa é quando ele confessa que chorou, por amor, pela primeira vez.

Coisa boa é futebol de botão com o time dos sonhos. É ter escova de dente na casa do outro. É desfilar com a velha camiseta dele antes de dormir. É ficar agarradinha com ele no sofá, no domingo à noite, assistindo programas de futebol, mesmo torcendo para times rivais.

Coisa boa é ser acordada com café da manhã na cama em plena segunda-feira. É banana amassada com aveia preparada por ele no café da manhã. É o pingado com pão na chapa da padaria da esquina de casa. É ir à feira de mão dada só para comer pastel com garapa.

É pensar em coisas boas, é ter sonhos. É não planejar nada e dar tudo certo.

Coisa boa é não precisar fazer tipo. É ser aceito e gostado pelo que realmente é. É agir com naturalidade. É ser admirado. É não ter medo de choque. É acreditar no que o outro diz e entregar-se por inteiro.

Coisa boa é coisa simples. É o respeito às diferenças e o zelo as pequenices. Coisa boa é verbalizar o que incomoda na tentativa de acertar.

Coisa boa é simplesmente acreditar que valeu a pena, que vale e valerá.
*
Inspirado no texto Pudim de Leite,
publicado no BLOG Quodores
em 29 de Julho de 2008.

JÁ QUE EU NÃO TÔ FAZENDO NADA MESMO...



Fonte: Caco Galhardo
12 de julho de 2007

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

BONANÇA

Tempo. E prioridade.
Quando se gosta, se quer estar junto.
Todo o tempo.
Arruma-se tempo.

Tempo de leveza.
Chamego e colo.
Congelando cada momento.
A memória de um tempo.

Tempo de ser inteiro.
De desejo.
De olhar que devora.
De declarar.
De sonhar.
E compartilhar.

Tempo de girassol.
De tardes de outono.
De cheiros.
De toque.
De contemplar.
E acreditar.

Que nada é estável.
Muito menos o tempo.

Esperar.
Passar.
Recomeçar.
Amar.



Inspirado no texto Tempo
publicado no BLOG Canário do Reino
em 22 de Junho de 2008.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

QUERERES


Eu só quero que você me queira
quando você me quiser,
e não quando eu quiser
que você me queira.

Mas e quando eu quiser, o que eu faço?
outubro de 2007

SÓ MAIS CINCO MINUTINHOS...

Assim como o João Gilberto, eu implico com o canto dos passarinhos. É fato. Eles são desafinados demais!

CANÇÕES DE AMOR


"Não me ame tanto, mas me ame por muito tempo."



Do filme Canções de Amor (Les Chansons d`Amour).

Christophe Honoré. França, 2007.

INCONDICIONAL



Fonte: Chico Bacon por Caco Galhardo.
Folha de São Paulo, 22 de setembro de 2008.

FERNET E FODA-SE!

Era bem tarde quando o telefone dela tocou. Era ele. Até então, nada de novo, já que se tornara um hábito dele ligar antes de dormir para desejar “boa noite”. Dessa vez, porém, estava completamente ébrio.

O som alto do carro, do jeito que ele gostava de ouvir, somado ao barulho da rua compunham o plano de fundo. Ele acabava de sair de um encontro com o irmão e o melhor amigo, onde anunciara o fim do seu casamento. E embora sem a coragem de confidenciá-los sobre a nova paixão, sentia certo alívio resultante do improvável e almejado colo concedido pelo amigo, um sujeito bacana, mas que segundo ele, fazia o tipo conservador.

Na empolgação, fez um pequeno desvio do caminho de casa, pois queria fazer uma surpresa a ela. Ele adorava surpreendê-la! E então, manteve-a ao fone durante todo o percurso, e aproveitando o porteiro já acostumado com sua presença diária naquele endereço, subiu sem avisar. Em poucos minutos estava ali, na porta do apartamento dela, tocando a campainha.

Foi recebido com a surpresa de quem não teve tempo de se aprontar, mas com o mesmo sorriso que o fizera não querer outra vida senão ao lado dela. O terno, a gravata na mão, e a camisa suada denunciavam o trajeto do escritório direto pro bar. E agora, completamente entregue a uma paixão solar e desmedida, estava ali. Com bafo de cerveja, bisteca de boi, e Fernet.

Naquela noite, toda a mise-en-scène criada para seduzi-la foi deixada de lado: nada de parecer elegante, educado, sensível e inteligente. Não levou uma nova carta de amor, nem as flores que tanto a alegravam. Sequer o olhar safado, e jamais disfarçado, de quem a desejou por anos a fio se fez presente.

Abraçou-a fortemente. Ficaram grudados.

Num gesto incomum, segurou o rosto dela com as mãos numa firmeza jamais repetida e sem piscar para aqueles olhos verdes que o encantavam, vaticinou:

- Eu serei o homem da sua vida!

E sem que houvesse tempo para qualquer reação dela, prosseguiu:

- FODA-SE! FODA-SE o mundo! FODA-SE o que você sente por mim! FODA-SE essa tal de reciprocidade que você tanto fala! Presta atenção: eu vou fazer de tudo para ser o homem da sua vida! Você está me entendendo? Eu serei o homem da sua vida!

E o FODA-SE! continuou incansavelmente:

- FODA-SE o mundo! FODA-SE! FODA-SE! E FODA-SE...

E naquela noite ele seguiu falando coisas que nunca dissera antes, pois não acreditava ter vivido algo sequer parecido. Não, não havia outra opção. Estava realmente decidido. Faria de tudo para conseguir o que mais queria: ser o homem da vida dela.

E ela permanecia absorta. Não sabia o que fazer, e muito menos o que falar. Estava diante de uma declaração de amor jamais prevista, imaginada. E ainda que falasse pelos cotovelos, naquela noite emudeceu. Simplesmente o ouvia. Atentamente. Era como se quisesse congelar aquele momento. Cada detalhe.

E ele se foi.

Com cara de tonta ela seguiu para o quarto. Um sorriso rasgado a acompanhava, ao relembrar cada palavra dele. Já deitada, na cama, no último segundo que antecedeu ao fechar dos olhos, ela se convenceu: FODA-SE!

Sim. Finalmente estava desarmada, e entendia que não podia abdicar de um amor como aquele. E então, dali em diante carregaria uma certeza: jamais reclamaria do bafo de cerveja dele. E aprenderia tudo sobre Fernet.

BEM VINDOS!

Aqui está. Um pouco de mim. Um espaço - onde eu posso tudo, incluindo passar o tempo que for sem postar nada. Não quero compromisso, tampouco obrigação. Acima de tudo, quero prazer e inspiração. Por isso, não espere nada além dos disparates de uma desassossegada que vive buscando resposta onde não tem.

Minha vida, a vida dos outros. Tudo pode pintar por aqui. Coisas que li, vi, senti ou ouvi. Ontem, hoje e o porvir. O real com sabor de ficção. O imaginado exalando rotina. Textos que podem até mesmo ser alterados (e por que não deletados?!) ao gosto do tempo, por aquela que quer aprender a escrever, se alonga em rascunhos, e duvida do ponto final.