quarta-feira, 26 de novembro de 2014

DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

Chove lá fora. É noite. Sem luz na redondeza há mais de 5 horas. A Dona Eletropaulo, pra variar, não cumpriu o prazo de retorno. Ligo e reclamo. Meu cabelo tem caído um bocado. Minha receita mensal também. O ano está acabando, novos trabalhos possivelmente só no ano que vem. Fico ansiosa. Sou ansiosa. Não gosto de final de ano. Faço dieta pra não ser diagnosticada como hipertensa. Nada de carboidrato a noite, bebida alcoólica com moderação. Ligo pro namorado, ele não atende. Lembro que é dia da aula de inglês. Tédio. As baterias do computador e do celular estão acabando. A minha não. Insônia hoje?

Chove lá fora. Sem luz, aproveito para desconectar um pouco. Final de ano com menos trabalho e mais tempo livre. O 2014 foi bom, deu pra garantir uma reserva para esperar o 2015. Nova fase, rumo aos 40: reeducação alimentar, sem sofrimento. Relaxo. Preparo o jantar saudável a luz de velas. Faço planos para a próxima viagem. Deveria ter ido ao cinema assim que a luz acabou. Vacilei. Acontece. Com sorte o namorado liga depois da aula de inglês e fujo pra casa dele. Brinco com as cadelas, assistimos alguns episódios de Homeland agarradinhos no sofá e durmo por lá. Ele ronca. Mas e daí?

terça-feira, 7 de outubro de 2014

EXISTE AMOR EM SÃO PAULO

O dia começou tenso.

Telefone e zap zap bombando, um caminhão de pepinos e abacaxis despejados na minha porta.

Se não bastasse, ainda tinha que sair correndo para o evento de um cliente quando me dei conta que não teria ninguém para receber as compras que o mercado entregaria ainda na parte da manhã. Recorri ao porteiro.

- Francisco, por favor, pelamordedeus, quebra essa! A Alice não pode vir hoje! Pode largar tudo na cozinha. Retorno em até três horas, organizo quando voltar.

As três horas viraram oito e eu já imaginava o queijo branco quase amarelo, as futuras saladas com folhas murchas e evitada pensar no restante dos itens que eram de geladeira. Respira, Vanessa, respira.

Cheguei em casa e a surpresa. Todos os itens de geladeira DENTRO da geladeira.

Já tinha agradecido o porteiro na chegada. Interfonei e o agradeci novamente.

Quando encontrá-lo amanhã, é possível que eu o peça em casamento.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O HOMEM DOS SONHOS

Ela estava saindo do bar com as amigas, quando trombou com um moço que sorriu, falou algo encantador, e lascou um beijo na boca dela. Não se desgrudaram mais. Dali em diante viveram uma puta paixão, daquelas de arrebatar. Logo ela que achou que nunca mais se entregaria, estava lá, mais uma vez no furor. 

O moço era mais charmoso que bonito, alto, magro, pele morena. Era dono de um bar, morava nos fundos dele. Não tinha o perfil "homem dos sonhos" (ela nem tinha mais idade pra acreditar nisso), mas eles se encaixavam de tal modo que não tinha como não ser perfeito. 

Tudo lindo e feliz quando ela acordou. Era apenas um sonho. 

Ficou inerte por um tempo, pensando se não valeria a pena voltar a dormir para tentar continuar o tal sonho. Ela acordou MUITO apaixonada pelo moço e não queria mais deixar de sentir aquilo.

A amiga a chamou no Skype, ela contava o sonho quando o telefone tocou. Era o namorado da vida real do outro lado da linha. Ela atendeu gargalhando.

Ele só queria dar "oi" e dizer que estava indo ao shopping com a filha e a ex mulher. Possivelmente almoçariam no Mc Donald's. 

FIM

sábado, 10 de maio de 2014

Dia de mudança. Literalmente.



Amanhã a mama faria exatos 40 anos morando no mesmo apartamento, na Vila Madalena, onde nasci.

Hoje ela dormirá no bairro de Perdizes, no apê novo, com um monte de caixas que só serão desfeitas amanhã ou depois. 

***
O celular tocou de manhã cedinho, com ela chorando do outro lado: 


- Filha, preciso de você, estou perdida na bagunça!


Ela tinha tentado me convencer, na noite anterior, que bastava eu estar no apartamento novo para ajudá-la a receber a mudança. Mas evidente que não caí nessa e já estava de saída pra casa dela no momento da ligação. Eu sentia que precisava estar junto desde cedo e acompanhá-la em todo o processo. Não podia deixa-la só. Hoje não. 

Cheguei um pouco antes da equipe que faria a mudança e quando vi aquele tanto de sacolinhas e cacarecos de uma vida toda, confesso que também me perdi. 

Caixas e caixas com objetos embalados... Era chegada a hora de partir. Ela fez um ritualzinho de agradecimento aos anos vividos ali e desceu no segundo andar para se despedir da sua vizinha e grande amiga, a única que sobrou no prédio desses anos todos. Depois que o meu pai morreu (eu tinha 5 anos), era o marido dela que corria com a minha mãe quando eu precisava de um pronto-socorro no meio da madrugada. Imaginou perder uma noite de sono por um filho que não é seu? Pois bem. Foi na bicicleta da filha deles que aprendi a andar sem rodinhas. Um pedaço de bolo oferecido podia ser retribuído com canja. Os pratos nunca voltavam vazios. As portas viviam abertas. Dessas relações de vizinhança que hoje não existem mais. 

Fiz o pente fino final. Tranquei o apartamento por ela e desci ao seu encontro. As duas estavam abraçadas, chorando um bocado. Chorei junto, tentando disfarçar. Porque hoje era o meu dia de ser forte. E amanhã também. 

***

PS: A mama mudou de lar porque, pela primeira vez, seu corpo pediu um prédio com elevador. Ela que quis e está feliz com o apartamento novo, um pouco maior e mais perto dos filhos. Aos 76 anos, porém, ela terá que aprender a viver sem vizinhos.

quarta-feira, 19 de março de 2014

DAS CENAS IMPROVÁVEIS OU DA GRAÇA DE ESTAR VIVA

- Cê tá na DOC Galeria?
- Tô
- Passo aí em 20 :)
- Venha e traga meu livro 
- Tô indo

******

- Comprei esse livro pra você. Não sei se você conhece, se já tem, mas achei que ia curtir, que tinha a sua cara.
- Tão a minha cara que o autor foi meu namorado.

FIM

terça-feira, 18 de março de 2014

SOBRE MIMOS E CAFÉS DA MANHÃ



Depois de um mês fora, a mama voltou pro seu lar ontem. Ela fez uma pequena cirurgia e, por isso, ficou entre a casa dos filhos e da irmã onde teria mais cuidados e companhia. 

Para ela não chegar com a casa vazia, a Alice ficou de dormir por lá na noite passada. 

Como praxe, toda terça-feira, a Alice vem pra minha casa trazendo pão para o nosso café da manhã. E assim, tomamos café juntas e falamos um pouco da vida antes de cada uma pegar no batente. Hoje não seria diferente, até que ela “se achando”, soltou: 

- Trouxe pão, mas já vim alimentada. Meu café da manhã hoje teve suco de laranja, iogurte com granola, mamão e queijo branco. 

Invejei. Pois a coisa que mais sinto falta de quando eu morava na casa da mama é justamente do seu café da manhã. Ela servia o café com leite na xícara, o pão fresquinho comprado na padaria logo cedo já cortado com requeijão, o suco de laranja no copo e o melão cortadinho. Era só “mandar pra dentro”! Certeza que essa delicadeza ela herdou do meu avô, pai dela, que preparou o café da manhã da minha avó durante os 55 anos de casados, acordando os filhos e netos (quando dormiam na casa deles), ainda na cama, com um copo de vitamina ou de suco de laranja. 

Triste é saber que não herdei nada disso, apenas a vontade de ser mimada assim pra sempre.

segunda-feira, 17 de março de 2014

COMO NOSSOS PAIS


Final de semana com a mama. No pouco tempo em que conseguimos ficar sozinhas, falamos sobre a vida, os anseios, os medos, os apuros, os planos. E meus quereres - cada dia menos convencionais e por vezes conflituosos e impublicáveis - encontraram entendimento, delicadeza, colo e cafuné. Minha velhinha, aos 76 anos (exatamente o dobro da minha idade), em meio à contação de seus causos, me mostrou que somos mais parecidas do que eu jamais poderia suspeitar. E isso hoje é libertador! FIM. 


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

MEUS 50 FILMES

Tarefa difícil. Mas consegui listar meus 50 filmes preferidos (em ordem alfabética). Critério? Aqueles que me fizeram sorrir, chorar, pensar, despertar. Adoro listas. Principalmente porque não são estáticas. Mudam conforme o vento, o tempo, o sentimento. A de hoje é essa. 



  1. A Caminho de Kandahar, de Mohsen Makhmalbaf (Irã, 2001)
  2. A Cor do Paraíso, de Majid Majidi (Irã, 1999)
  3. A Felicidade Não se Compra, de Frank Capra (Estados Unidos, 1946)
  4. A Inglesa e o Duque, de Éric Rohmer (França, 2001)
  5. A Língua das Mariposas,  de José Luis Cuerda (Espanha, 1999)
  6. As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand (Canadá, França, 2003)
  7. Adeus Lênin, de Wolfgang Becker (Alemanha, 2003)
  8. Apenas o Fim, Matheus Souza (Brasil, 2008)
  9. Banquete de Casamento, Ang Lee (Estados Unidos, Taiwan, 1993)
  10. Barry Lyndon, do Stanley Kubrick (Inglaterra, 1975)
  11. Casablanca, de Michael Curtiz (Estados Unidos, 1942)
  12. Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (Brasil, 2002)
  13. Comer, Beber, Viver, Ang Lee (Estados Unidos, Taiwan, 1994)
  14. Dersu Uzala, Akira Kurosawa (Russia, Japão, 1975)
  15. Dolls, de Takeshi Kitano (Japão, 2002)
  16. Elsa & Fred, Um Amor de Paixão, Marcos Carnevale (Espanha, Argentina, 2006
  17. Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola (EUA, 2003)
  18. Feminices, de Domingos de Oliveira (Brasil, 2004)
  19. Festa de Família, de Thomas Vinterberg (Dinamarca, 1997)
  20. Habemus Papam, de Nanni Moretti (Itália, 2011)
  21. Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho (Brasil, 2001)
  22. Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho (Brasil, 2007)
  23. Jules e Jim, Uma Mulher para Dois, do François Truffaut (França, 1962)
  24. Kamchatka, de Marcelo Piñeyro (Argentina, 2002)
  25. Lugares Comuns, de Adolfo Aristarain (Argentina, 2003)
  26. Mar Adentro, de Alejandro Amenábar (Espanha/Itália/França, 2004)
  27. Match Point - Ponto Final, de Woody Allen (Luxemburgo, Estados Unidos, Inglaterra, 2005)
  28. Meia Noite em Paris, de Woody Allen (Espanha, 2011)
  29. Moça com Brinco de Pérola, de Peter Webber (Inglaterra/Luxemburgo, 2003)
  30. Narradores de Javé, de Eliane Caffé (Brasil, 2003)
  31. Ninguém Pode Saber, de Hirokazu Kore-eda (Japão, 2004)
  32. Nome Próprio, Murilo Salles (Brasil, 2007)
  33. Nova York, eu te amo, diversos diretores (EUA, 2008)
  34. O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger (Brasil, 2006)
  35. O Desprezo, Jean-Luc Godard (França, Italia, 1963)
  36. O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de Jean Pierre Jeunet (França, 2001)
  37. O Grande Chefe, de Lars von Trier (Dinamarca/ Suécia/Islândia/Itália/França/Noruega/Finlândia/ Alemanha, 2006)
  38. O Quarto do Filho, de Nanni Moretti (Itália, 2001)
  39. Paris visto por, Claude Chabrol, Eric Rohmer, Jean Rouch, Jean Douchet, Jean-Luc Godard, Jean-Daniel Polle (França, 1965)
  40. Paradise Now, de Hany Abu-Assad (França/Alemanha/Holanda/Israel, 2005)
  41. Promessas de um Novo Mundo, de Justine Shapiro, Carlos Bolado e B. Z. Goldberg (EUA, 2001)
  42. Querida Wendy, de Thomas Vintenberg, (Dinamarca/Alemanha/Inglaterra/França, 2004)
  43. Ser e Ter, de Nicholas Philibert (França, 2002)
  44. Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch (EUA, 2003)
  45. Terra de Ninguém, de Danis Tanovic (Eslovênia/França/Itália/Inglaterra, 2001)
  46. Uma Mulher é Uma Mulher, de Jean-Luc Godard (França, Itália, 1961)
  47. Um Beijo Roubado, de Wong Kar Way ((Hong Kong / China / França, 2007)
  48. Um Filme Falado, do Manoel de Oliveira (Itália, França, Portugal, 2003)
  49. Vermelho como o Céu, de Cristiano Bortone (Itália, 2006)
  50. Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen (Estados Unidos, 2008)
Acrescentei mais três filmes, na incapacidade de fazer a devida substituição:

  51. A Excêntrica Família de Antonia, de Marleen Gorris (Holanda, Reino Unido e Bélgica, 1995)
  52. Boleiros - Era Uma Vez o Futebol, de Ugo Giorgetti (Brasil, 1998)
  53. Edifício Master, de Eduardo Coutinho (Brasil, 2002)

sábado, 16 de novembro de 2013

NEM MAIS UMA DOSE



Eles combinaram. É, na verdade, ele combinou com ela. A ideia era matar uma garrafa inteirinha de uísque, juntos, numa noite no sofá da casa dele. Ou dela. Para ele, isso era importante. Não podia ser cerveja, cachaça, drinks outros. Tinha que ser uísque.

Ela topou.

Não rolou. Não deu tempo.

Passado um tempo, ela concluiu que foi melhor pro fígado dela. E pro coração.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

QUANDO FEVEREIRO CHEGAR...


Outubro chegou. Em dois meses deixarei a sala de aula, sem data para retornar. Pela primeira vez, em 14 anos de docência, não terei vínculo com nenhuma instituição de ensino. Dá um frio na barriga, entre outras coisas, porque eu não sei se sei dizer que sou outra coisa, que não professora.  

Por outro lado, meu trabalho com pesquisa e conteúdo anda cada dia mais intenso. Um privilégio ganhar dinheiro para estudar e escrever. O mesmo acontece com a comunicação online, que entrou na minha vida, encontrou casa, comida e decidiu ficar. Novos rumos, ótimas perspectivas. 

Que eu continue trabalhando com gente querida, que venham novas parcerias, propostas inteligentes, prazerosas e bem remuneradas. E, acima de tudo, que gerem conhecimento. Porque se tem uma coisa que não dá para abrir mão, é de aprender. Cada dia um tiquinho mais. Mais e mais.