quinta-feira, 25 de outubro de 2012

PRESENTE

Assim que eu postei o texto ENTREGUE(S), o Niro Nash apareceu com esta lindeza de imagem. Impossível não compartilhar! :) 


ENTREGUE(S)



Se não fosse a fala mansa, o beijo quente e o par de olhos azuis no decote dela, certeza que ela o teria evitado.

Teria nada. Desde a primeira vez que ela o ouviu, sentiu vontade de prová-lo. Tanto tempo depois, aquela altura, já o imaginava no sofá, na parede, na cama, no chuveiro, na vida dela. Por pouco tempo, é verdade, porque as relações são perecíveis e a deles já começava assim, datada. Acontece que, de tão molhada, o prazo de validade ficou ilegível e ela se perdeu, sem saber a hora de acabar. Lamentava a falta de um manual com dicas sobre a hora de romper. Romper no momento certo, uma arte, que poucas vezes dominara. E seguia assim, entregue.

O primeiro encontro foi de expectativa, curiosidade, excitação. Saíram pra jantar e, na volta, com a desculpa de um drink saideira, ela bebeu ele. E se embriagou. Acordou de ressaca, mas daquela que só passa com mais uma dose. Repetiram, de imediato, com sede de anteontem. E seguiam assim, entregues.

Não faziam planos, maiores combinações, não existia hora certa. Ele podia acordá-la, tal qual uma gata de armazém, em uma manhã de terça-feira, ou aparecer de bermuda e chinelo, em uma sexta, pra ver o pôr do sol da cama dela.

Ela se sentia mais linda ao lado dele. E ele mais jovem ao lado dela. A cruz nas costas, os cochilos suados, a cumplicidade criada, o ciúme discreto, a saudade apertada. Imprevisível, "gostosudo", arrebatador. Romance com gosto. De bomba de chocolate.


(dos escritos perdidos, de um dos meus caderninhos)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O BAR LÉO MORREU. E FAZ TEMPO.

Tanto a Renata Domingos quanto o Jota Bê já tinham me alertado, mas cabeça-dura que sou, tive que constatar pessoalmente, afinal, mais que um bar, pra mim o Léo era um templo sagrado

Estive no Léo, pela última vez, em dezembro de 2011. Foi quando descobri que os garçons Zé e Gaúcho (que sempre me trataram como Rainha) não trabalhavam mais lá. Em conversa com o sobrinho do Gaúcho, soube ainda do modo grotesco que aconteceu a demissão do seu tio. Naquele dia, o atendimento foi péssimo, o chopp mediano e o sanduíche de salame com provolone não chegou porque o pão tinha acabado.

Não esperei a água sanitária molhar os meus pés, como era praxe, já que só saía do Léo com as portas fechadas, cadeiras suspensas e água lavando o chão. Fugimos rapidamente, eu e a querida amiga Ana Paula (Puia), testemunha do meu constrangimento, tristeza e indignação. O sentimento de pertença com a Rua Aurora nº 100 fora mutilado. Prometi não voltar mais. E assim o fiz.

Pois bem. No fim das contas, só sobrou mesmo a saudade dos ótimos momentos "bebidos" por lá. Mentira. Sobrou ainda parte de uma garrafa de Steinhaeger que ganhei de presente, comprada no estabelecimento, e que aguarda na geladeira de casa quem quiser chegar junto... Pra beber o defunto, claro!   :-(