terça-feira, 9 de dezembro de 2008

VICKY CRISTINA BARCELONA - II

Duas pessoas me pediram e então resolvi escrever sobre o filme VICKY CRISTINA BARCELONA, do Woody Allen, em cartaz desde o dia 14 de novembro de 2008. Ressalto, porém, que não basta gostar de cinema para sentir-se a vontade para escrever, de modo que expresso aqui apenas algumas das minhas impressões, sem qualquer pretensão maior. Então vamos lá...

********************************************************************

Mais uma vez, Woody Allen fez um grande filme. E o fato de carregar inúmeros clichês, inclusive turísticos, não o deprecia em nada. Desde o local escolhido, Barcelona, que pelo título poderia ser uma das personagens - quem conhece a cidade, sente saudade ao vê-la, e quem nunca foi fica com vontade de ir - às férias de duas amigas, onde uma delas, a prudente Vicky (Rebecca Hall) "acha" que sabe o que quer (vai à busca de sua pesquisa de mestrado sobre a cultura catalã, está de casamento marcado com seu noivo "perfeito", para uma vida "também perfeita") e a outra, a sensual Cristina (Scarlett Johansson), uma artista em crise, que sofre de insatisfação crônica, "só sabe o que não quer", e vai levando a vida aberta a tudo, menos “ao que ela já sabe que não quer”, evidentemente.

O filme é divertido, e não há como deixar de se identificar com alguns dos personagens ou situações dos percalços amorosos, ao menos em um ou outro momento do filme. E sabemos que para conquistar o espectador, a identificação é um prato cheio.

Javier Bardem (no papel de Juan Antonio) está tão espetacular que parece interpretar a si mesmo. Seu charme deixa a público feminino entorpecido. Atire a primeira calcinha, ops, pedra, qual mulher que não queria, ao menos uma vez na vida, receber um convite daquele! Não estou falando essencialmente do aceite, mas do convite! E quanto aos homens, acredito com segurança que se contorceram de inveja!

O noivo de Vicky, infelizmente, representa um modelo que está solto por aí, não somente nos folhetins e novelas - é o típico burguês, sem graça, fútil, que leva uma vida morna, que gasta saliva na hora do jantar falando do último modelo de TV, pensando no próximo carro, jogando golfe, e achando tudo isso maravilhoso. Eca! E Vicky, por nunca ter vivido algo mais excitante, acredita nesse tipo de vida, pois não possui qualquer referência que lhe confira discernimento. E somente depois de seduzida por Juan Antonio, é que começa a enxergar um palmo à frente do nariz.

Mesmo assim, esse tipo de relação (Vicky e o noivo), carregado de um conformismo tão peculiar, existe a cântaros por aí (por aqui não, jacaré!), impossibilitando qualquer tipo de transformação humana. Seria preguiça? Resignação? O fato é que o aceite a este tipo de vida só leva a sensação de que a escolha amorosa é fruto de um comodismo medroso, o que acaba levando um dos parceiros (aquele que percebe de alguma forma) à dúvida de como seria outro tipo de vida e relação, se existisse a coragem para dar um basta. Penso também que aquele que não possui tal percepção, vive feliz, e sua vida é considerada “morna” apenas para quem a observa de fora.

O filme traz a eterna dúvida do que é o amor, das diferentes formas de amar, além da confusão estabelecida entre sedução e paixão, amor e paixão e quem sabe até, amor-paixão. Coloca a paixão solar e desmedida vivida ou idealizada (tanto faz – triste de quem nunca a viveu!) como propósito, pois mesmo reconhecendo a presença do medo, o “querer viver intensamente” o lança mão, e se desfaz (ainda que temporariamente) dele.

O amor pode machucar, confundir, e gerar posse. Mas não há o descarte também do compartilhar (Sartre e Simone de Beauvoir?), que vem por meio de um entendimento maior em relação às necessidades do outro ou de si mesmo. Taí as diferentes formas de amar...

Penso que a mulher, acima de tudo, quer ser desejada e Woody Allen soube trabalhar muito bem isso. Juan Antonio, diferente dos “Don Juans” de plantão, consegue dar conta das três basicamente porque se mostra leal, transparente, e não tenta enganar ninguém. Mas sabemos que na vida real, isso parece fora de cogitação, e se existe algo parecido, é para poucos, bem poucos.

As cenas de Cristina com Maria Helena (Penélope Cruz arrasando em beleza e sensualidade) conseguem ser lindas e leves. E a forma como Cristina trata (quando conta para a Vicky e o marido), sem qualquer preocupação em relação a uma possível bissexualidade é mais do que perfeita - não há tensão, não há medo, não há dúvida. Porém, ela (até ela) parece também querer se preservar, e prefere recuar usando o já citado e batido clichê “ela sabe o que não quer”. O fato é que o triângulo amoroso ali estabelecido passa a sensação de uma união perfeita e harmônica, aliás, somente possível porque vivida a três (Maria Helena, inclusive reconhece isso para Cristina). Mas, assim como na vida real, parece que sempre haverá um (no filme, Cristina) que não dará conta de mantê-la.

E, ao final do filme, quanto à volta de viagem das duas amigas, embora sugira o mais perfeito retorno à normalidade, penso que não há como desconfiar da transformação, ao menos interna, de cada uma delas. E a meu ver, o amor, a paixão, o amor-paixão, ou qualquer outro tipo de relação, somente quando resulta em transformação, é que efetivamente vale à pena!

5 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Gostei de VICKY CRISTINA BARCELONA como há muito tempo não gostava de um filme do Woody Allen, eu que sou um fã de carteirinha deste diretor.

Os 3 atores estão muito bem. E mesmo eu, que ando meio taradinho pela Scarlett Johansson, ultimamente, não pude resistir quando a Penélope Cruz entra em cena. Ela, literalmente, rouba a cena. Mesmo com o cabelo desgrenhado. Ela abafa.

Anônimo disse...

Bardem, homem de sorte! (2)

Vanessa Dantas disse...

Arnaldo: meio taradinho pela Scarlett Johansson? Bobo você, não?...rs... E a Penélope Cruz está mesmo arrasando!

Rodrigo: Scarlett Johansson, sortuda! (2)

Anônimo disse...

sabe o que queria! somente queria?
ser o quinto elemento ali naquele filme!!!
meu deus, como são lindos, todos.
hehe

Vanessa Dantas disse...

Caderno! Quem não queria?! ;o) Seja bem vinda! Aprochegue-se e volte sempre!