quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TAURINOS QUASE GÊMEOS

Ele sabia que às quartas ela chegava tarde, já era quase meia-noite, mesmo assim resolveu ligar. Não podia voltar para Londres sem dar um beijo de despedida nela. Foi até a sua casa com o propósito de não demorar, mas a conversa, como sempre, se estendeu. Reparou nas mudanças do apartamento, na nova disposição dos móveis, na amplitude da sala. Enquanto ela se libertava dos sapatos e preparava algo para comer, ele bisbilhotava a estante de livros. Começaram com a lembrança da última vez que esteve no Brasil - ele lavava a louça depois de um almoço na casa dela, quando o moço que a cobiçava na época, e que ela tinha dado um cano, apareceu. E, atendendo a um pedido "de pé de ouvido" dela, naquele dia, ficou apenas mais 10 minutos e partiu. Pararam por aí. Não precisava saber dos detalhes da cobiça com sucesso e de todas as presepadas vividas depois. E então passearam pelas amenidades, preferindo os atalhos da conversa leve, ao som de uma cantora brasileira que ele ainda não conhecia. Conversaram sobre Londres, sobre o trabalho dele lá, e o dela aqui. Falaram da situação do Palmeiras - time do coração dos dois. Ampliaram para o Brasileirão, mas evitaram ser monotemáticos. E assim prosseguiram como se fosse possível falar tudo o que ocorrera na ausência dos últimos anos. Não tinham ambição de conseguir, mas era natural a vontade de querer aproveitar o pouco do tempo que sobrara antes dele partir. Sabiam antemão que não alimentariam troca de e-mails, aquilo não fazia bem pra ele e ela respeitava. Ele que tem a bicicleta como meio de transporte, trabalho, lazer e até competição, lamentou quando ela assumiu que mantinha a preguiça em cativeiro. Ele reclamou do nível das conversas do lado de lá, da profundidade, do repertório preguiçoso e da pouca erudição dos colegas estrangeiros. Elogiou os amigos brasileiros e a troca interessante propiciada a cada encontro. Falou que sentia falta disso por lá. Um ou outro romance vivido foi citado, apenas de forma superficial. Na corujice máxima, ela aproveitou para mostrar um pequeno vídeo da sobrinha de quase três anos cantando Roberto Carlos. Ele vai ser tio, e esta foi a forma que ela encontrou de dizer que ele não poderia continuar longe, que era preciso ver o bebê nascer e crescer. Ele ouviu e considerou, repousando a cabeça na almofada. Os corpos começaram a dar sinais que a madrugada adentrava, na medida em que ela afundava no sofá - verdadeiro cúmplice de gargalhadas, amassos, bebedeiras, lágrimas, preguiça, cansaço e dor. O fato é que as horas corriam rapidamente, ali e por todos os dias. E nessa, ele aproveitou para confessar que, às vezes, se sentia velho. E então ela lembrou de uma das primeiras e mais importantes descobertas logo que se conheceram: ambos nasceram no mesmo dia, do mesmo ano, e quase no mesmo horário. Ela era mais velha que ele, apenas 15 minutos. E na época, da descoberta, ele chegou a sugerir que rachassem um mapa astral.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não sei bem como encontrei teu blog, mas fato é que acompanho sempre e sempre me delicio com as histórias, fotos, discussões futebolísticas...
Nunca comentei por preguiça. Shame, I know... mas agora tive que escrever... jurava que veria o final da história como aquelas bem românticas, dos dois se descobrindo e tale e cousa.. rs..
Mas nossas vidas não são assim novelísticas, né? Pena - ou não.
Essa história tem um final, não tem?

Eli Carlos Vieira disse...

Pode até haver final, mas eu arriscaria dizer que nem seria preciso!
Que sintonia doida! Que cenas!
Quais serão os pontos a favor e contra o casal, em se tratando de astrologia?

Acabei de terminar um livro sobre Caio F., que era extremamente ligado a astrologia e curtia fazer mapas astrais de seus amigos, como forma de entendê-los melhor! Quero fazer um pra mim também!

Beijo!

Vanessa Dantas disse...

Oi Cá! Seja bem vinda! E deixe de ser preguiçosa... comente mais! ;o) Se essa história tem um final? Aaaahhh! Vai ter que acompanhar pra saber...

Pois é Eli, costumo dizer que quando o filme é bom, não precisa ter final... pelo menos daqueles redondinhos, não é?! Enfim... Já fiz um mapa, só meu, sem rachar com ninguém. É bacana! Faça o seu!

Beijo nos dois.

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel