Eu pedi e ela acatou. Não queria conversar sobre aquele 03 de dezembro de 2007. Mas ela também fez um pedido que e não pude negar – manteríamos exatos 365 dias de silêncio sobre o referido assunto, e hoje eu deveria procurá-la para ouvir tudo o que ela tivesse pra dizer.
Liguei. Ela demorou a atender, por um instante cogitei que não teria coragem, mas no fundo, eu sabia que ela não recusaria aquela ligação.
Nem bem atendeu, e já foi dizendo que tinha tomado uma série de decisões para o dia de amanhã. Assim, procurei ouvi-la.
Disse que amanhã, finalmente, ela apagará os últimos 11 torpedos que ainda restam em seu celular, por mim enviados dizendo que a amava. Amanhã ela também vai jogar a minha escova de dente no lixo, já que foi o único objeto não incluído aos demais devolvidos naquela fatídica tarde. Também vai tirar nossas fotos do mural, juntar as 20 e tantas cartas de amor que escrevi pra ela, e queimar tudo de uma só vez.
Eu bem que tentei interceder a favor das cartas, mas foi em vão. Ela ainda quis me convencer que eu me apaixonei pelo que escrevi e não propriamente por ela. E ela, por sua vez, pelo que leu, ou seja, por algo que nunca existiu além do papel.
Resolveu que vai aproveitar e deletar uma pasta que criou com o meu nome no computador dela, onde arquivava nossos e-mails e textos, alguns até publicados, que de alguma forma falavam da nossa relação.
Amanhã, os CDs que eu dei pra ela serão doados assim como uma pulseira que ela preferia usar como prendedor de cabelo, lembrando do dia que a tirei do meu pulso numa de nossas primeiras despedidas e a entreguei na porta da casa dela.
Ela enfatizou que o bonito colar que eu dei de presente de aniversário também mudará de dona, assim como a orquídea que resolveu nunca mais florir. Ela só não tem certeza se fará o mesmo com o DVD do meu filme preferido. Não por tê-la presenteado junto com uma pequena carta dizendo que aquilo era mais um pouco de mim, tampouco por termos assistido grudados no sofá num final de tarde chuvoso, mas pelo fato de também ter se tornado um dos filmes preferidos dela. Mas quanto a isso, ela disse que até amanhã resolverá.
Comentou também que amanhã deverá deletar os meus números de telefone e não entrará mais no meu blog, precisa parar de acompanhar o que escrevo, já que na maior parte das vezes eu não publico os comentários que ela faz.
Ela disse que o vestido azul guardado desde a nossa última noite juntos (dias depois do tal 03 de dezembro) voltará a uso, pois é muito belo para mantê-lo guardado.
A partir de amanhã, ela resolveu que desviará de caminho para não ter que passar pelas ruas próximas ao meu prédio, pois reconheceu não suportar o fato de eu ter alugado um apartamento tão perto do dela.
Também não quer mais tomar vinho nas taças azuis, iguais as que ela me deu de presente, mas só amanhã decidirá se prefere doá-las ou quebrá-las.
Ela revelou que não passou um dia sequer desses 365 sem pensar em mim, quase sempre alternando entre saudade e rancor, mas que de uns tempos pra cá, apesar de pensar, não consegue sentir mais nada, ou ao menos não tem discernimento sobre o que sente. Assim, ela prefere dizer que “cismou” comigo, a aceitar que tudo isso possa ser “amor”. Falou que já quis até que fosse “posse” como certa vez eu idiotamente mencionei, mas que descartou, pois se fosse realmente, tudo seria mais simples e há tempos já estaria liberta.
Disse ainda que nem ciúme consegue sentir de mim, e eu é que sou um sujeito muito do possessivo “embora eu não admita”, pois sequer dei ouvidos quando ela sugeriu que tivéssemos uma relação mais aberta e sem hipocrisia.
Eu confesso que fiquei mudo praticamente durante toda a ligação, até por lembrar que a proposta não era exatamente estabelecer uma conversa, um diálogo, e que o combinado era eu ligar para ouvir o que ela tinha pra me dizer e pronto. Mas antes que ela finalizasse com a previsível frase “amanhã não restará mais nada”, eu não resisti e resolvi perguntar:
- Por que você fará tudo isso somente amanhã?
E ela respondeu:
- Porque se eu fizer tudo isso hoje, amanhã eu não terei a chance de mudar de ideia!
Liguei. Ela demorou a atender, por um instante cogitei que não teria coragem, mas no fundo, eu sabia que ela não recusaria aquela ligação.
Nem bem atendeu, e já foi dizendo que tinha tomado uma série de decisões para o dia de amanhã. Assim, procurei ouvi-la.
Disse que amanhã, finalmente, ela apagará os últimos 11 torpedos que ainda restam em seu celular, por mim enviados dizendo que a amava. Amanhã ela também vai jogar a minha escova de dente no lixo, já que foi o único objeto não incluído aos demais devolvidos naquela fatídica tarde. Também vai tirar nossas fotos do mural, juntar as 20 e tantas cartas de amor que escrevi pra ela, e queimar tudo de uma só vez.
Eu bem que tentei interceder a favor das cartas, mas foi em vão. Ela ainda quis me convencer que eu me apaixonei pelo que escrevi e não propriamente por ela. E ela, por sua vez, pelo que leu, ou seja, por algo que nunca existiu além do papel.
Resolveu que vai aproveitar e deletar uma pasta que criou com o meu nome no computador dela, onde arquivava nossos e-mails e textos, alguns até publicados, que de alguma forma falavam da nossa relação.
Amanhã, os CDs que eu dei pra ela serão doados assim como uma pulseira que ela preferia usar como prendedor de cabelo, lembrando do dia que a tirei do meu pulso numa de nossas primeiras despedidas e a entreguei na porta da casa dela.
Ela enfatizou que o bonito colar que eu dei de presente de aniversário também mudará de dona, assim como a orquídea que resolveu nunca mais florir. Ela só não tem certeza se fará o mesmo com o DVD do meu filme preferido. Não por tê-la presenteado junto com uma pequena carta dizendo que aquilo era mais um pouco de mim, tampouco por termos assistido grudados no sofá num final de tarde chuvoso, mas pelo fato de também ter se tornado um dos filmes preferidos dela. Mas quanto a isso, ela disse que até amanhã resolverá.
Comentou também que amanhã deverá deletar os meus números de telefone e não entrará mais no meu blog, precisa parar de acompanhar o que escrevo, já que na maior parte das vezes eu não publico os comentários que ela faz.
Ela disse que o vestido azul guardado desde a nossa última noite juntos (dias depois do tal 03 de dezembro) voltará a uso, pois é muito belo para mantê-lo guardado.
A partir de amanhã, ela resolveu que desviará de caminho para não ter que passar pelas ruas próximas ao meu prédio, pois reconheceu não suportar o fato de eu ter alugado um apartamento tão perto do dela.
Também não quer mais tomar vinho nas taças azuis, iguais as que ela me deu de presente, mas só amanhã decidirá se prefere doá-las ou quebrá-las.
Ela revelou que não passou um dia sequer desses 365 sem pensar em mim, quase sempre alternando entre saudade e rancor, mas que de uns tempos pra cá, apesar de pensar, não consegue sentir mais nada, ou ao menos não tem discernimento sobre o que sente. Assim, ela prefere dizer que “cismou” comigo, a aceitar que tudo isso possa ser “amor”. Falou que já quis até que fosse “posse” como certa vez eu idiotamente mencionei, mas que descartou, pois se fosse realmente, tudo seria mais simples e há tempos já estaria liberta.
Disse ainda que nem ciúme consegue sentir de mim, e eu é que sou um sujeito muito do possessivo “embora eu não admita”, pois sequer dei ouvidos quando ela sugeriu que tivéssemos uma relação mais aberta e sem hipocrisia.
Eu confesso que fiquei mudo praticamente durante toda a ligação, até por lembrar que a proposta não era exatamente estabelecer uma conversa, um diálogo, e que o combinado era eu ligar para ouvir o que ela tinha pra me dizer e pronto. Mas antes que ela finalizasse com a previsível frase “amanhã não restará mais nada”, eu não resisti e resolvi perguntar:
- Por que você fará tudo isso somente amanhã?
E ela respondeu:
- Porque se eu fizer tudo isso hoje, amanhã eu não terei a chance de mudar de ideia!
9 comentários:
Achei interessante a forma como escreveu esse novo texto na versão masculina, acabei me identificando com partes dele. Uma pena que no meu caso não houve ao final a leveza de uma resposta como essa.
É amor, dos dois lados.
Belo texto, Vanessa. Belo, mesmo! Criativo e emotivo.
Agora, pra mim, que me separei faz pouco tempo, foi um soco no fígado (que já está bem deteriorado pela cachaça ingerida pelo motivo supra citado).
E, engraçado; quando você está nessa "dor de corno" é que se percebe como a grande maioria dos sambas (gênero musical que ouço a cântaros) não fala de amor. Mas de desamores, desenganos e desencontros. (Pensei que fossem meus ouvidos. Mas não são. É fato. Repara bem...)
Continue mandando textos bacanas como esse. Lê-los é um prazer imenso.
Beijão
Edu
Lindo, lindo, lindo!
Com um final que não poderia ser melhor...
Diogo: Que bom que gostou. Tentarei escrever outras vezes na versão masculina, mas confesso que não achei nada fácil! Quanto ao final, se não houver um mínimo de leveza, creio que meus leitores me abandonam! ;o)
Anônimo: Uau! Quanta certeza!
Edu: Obrigada! E desculpa pelo soco! Mas não tem jeito, é comum nos identificarmos mesmo com a "dor de amor" (ou "de corno?") dos sambas e demais letras por aí. É interessante também notar o quanto a dor rende inspiração, não?! E, se por um lado, dá vontade de cortar os pulsos, por outro surge a esperança de que não é para sempre, que um dia passará... Beijão.
Que bom Lulu que você gostou!
Gostei muito do texto mas discordo do Diogo quando diz sobre ele estar escrito na versão masculina. Até o penúltimo parágrafo, dá, perfeitamente para lê-lo como um texto na primeira pessoa e no feminino. E se tivesse continuado assim, teria ficado tão bom, ou até melhor, por sugerir essa dúvida.
Olá Arnaldo! Seja bem vindo! Confesso que inicialmente cogitei o texto com a possibilidade da dúvida, mas acabei desistindo. Enfim, obrigada pela crítica construtiva, a aprendiz aqui só tem a agradecer! E volte sempre!
Não vou nem comentar (2).
Rodrigo: com esse atraso todo, não deveria mesmo! Beijo.
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