quarta-feira, 24 de setembro de 2008

FERNET E FODA-SE!

Era bem tarde quando o telefone dela tocou. Era ele. Até então, nada de novo, já que se tornara um hábito dele ligar antes de dormir para desejar “boa noite”. Dessa vez, porém, estava completamente ébrio.

O som alto do carro, do jeito que ele gostava de ouvir, somado ao barulho da rua compunham o plano de fundo. Ele acabava de sair de um encontro com o irmão e o melhor amigo, onde anunciara o fim do seu casamento. E embora sem a coragem de confidenciá-los sobre a nova paixão, sentia certo alívio resultante do improvável e almejado colo concedido pelo amigo, um sujeito bacana, mas que segundo ele, fazia o tipo conservador.

Na empolgação, fez um pequeno desvio do caminho de casa, pois queria fazer uma surpresa a ela. Ele adorava surpreendê-la! E então, manteve-a ao fone durante todo o percurso, e aproveitando o porteiro já acostumado com sua presença diária naquele endereço, subiu sem avisar. Em poucos minutos estava ali, na porta do apartamento dela, tocando a campainha.

Foi recebido com a surpresa de quem não teve tempo de se aprontar, mas com o mesmo sorriso que o fizera não querer outra vida senão ao lado dela. O terno, a gravata na mão, e a camisa suada denunciavam o trajeto do escritório direto pro bar. E agora, completamente entregue a uma paixão solar e desmedida, estava ali. Com bafo de cerveja, bisteca de boi, e Fernet.

Naquela noite, toda a mise-en-scène criada para seduzi-la foi deixada de lado: nada de parecer elegante, educado, sensível e inteligente. Não levou uma nova carta de amor, nem as flores que tanto a alegravam. Sequer o olhar safado, e jamais disfarçado, de quem a desejou por anos a fio se fez presente.

Abraçou-a fortemente. Ficaram grudados.

Num gesto incomum, segurou o rosto dela com as mãos numa firmeza jamais repetida e sem piscar para aqueles olhos verdes que o encantavam, vaticinou:

- Eu serei o homem da sua vida!

E sem que houvesse tempo para qualquer reação dela, prosseguiu:

- FODA-SE! FODA-SE o mundo! FODA-SE o que você sente por mim! FODA-SE essa tal de reciprocidade que você tanto fala! Presta atenção: eu vou fazer de tudo para ser o homem da sua vida! Você está me entendendo? Eu serei o homem da sua vida!

E o FODA-SE! continuou incansavelmente:

- FODA-SE o mundo! FODA-SE! FODA-SE! E FODA-SE...

E naquela noite ele seguiu falando coisas que nunca dissera antes, pois não acreditava ter vivido algo sequer parecido. Não, não havia outra opção. Estava realmente decidido. Faria de tudo para conseguir o que mais queria: ser o homem da vida dela.

E ela permanecia absorta. Não sabia o que fazer, e muito menos o que falar. Estava diante de uma declaração de amor jamais prevista, imaginada. E ainda que falasse pelos cotovelos, naquela noite emudeceu. Simplesmente o ouvia. Atentamente. Era como se quisesse congelar aquele momento. Cada detalhe.

E ele se foi.

Com cara de tonta ela seguiu para o quarto. Um sorriso rasgado a acompanhava, ao relembrar cada palavra dele. Já deitada, na cama, no último segundo que antecedeu ao fechar dos olhos, ela se convenceu: FODA-SE!

Sim. Finalmente estava desarmada, e entendia que não podia abdicar de um amor como aquele. E então, dali em diante carregaria uma certeza: jamais reclamaria do bafo de cerveja dele. E aprenderia tudo sobre Fernet.

4 comentários:

Anônimo disse...

Então quer dizer que o segredo é o Fernet? Se eu soubesse disso antes... Parabéns pelo blog. Acho até que demorou. E por mais que você diga o contrário, desejo vida longa ao blog da marrentinha.

kareen terenzzo disse...

Vaaan, sei lá quem é, o que é "esse Fernet". Mas foda-se vc encheu meus olhos de lágrimas.
Ameeeei o texto!!!!Lindo amiga.

Bj

Ps.: já bafo de cerveja a gente conhece bem né... Rsss

Vanessa Dantas disse...

Rodrigo, meu lindo, esqueça o Fernet! Obrigada pela visita. E eu NÃO sou marrenta, OK?! :o(

Só você mesmo amiga, para chorar em meio a tanto FODA-SE! beijos...

Anônimo disse...

Putz! Esse texto é FODIDO de bom! FODAAAAAAA!